7 Anos

Hoje completamos sete anos de TRILHA. 

Tem um quê místico nessa data. O sete está relacionado a ciclos, desde a criação a como vivemos nossa vida nesse Mundo. Tem algo nesse número que rege a nossa relação com as coisas mais profundas, aquelas que muitas vezes não conseguimos explicar.  

Alguns dizem que nossas vidas mudam completamento a cada sete anos. Os tais “setênios” seriam o tempo necessário para absorvermos todos os aprendizados de uma fase da vida e partir para os desafios do próximo ciclo.

Nem sempre é fácil enxergar os ciclos. Mas entender nosso caminho como ciclos que se conectam formando uma história, nos ajuda a colocar em perspectiva tudo que estamos vivendo: de onde viemos, onde estamos e para onde vamos. 

Nos primeiros sete anos de TRILHA, construímos as bases do nosso longo caminho. 

Primeira brassagem teste na cozinha da Lox Deli.

Quando começamos, a nossa única certeza era que tipo de produto queríamos produzir. Em nossas cabeças, a Melonrise já existia. Tínhamos bem claro como ela seria sensorialmente. Para nós, ela já tinha cor, aroma e sabor. 

Primeira tentativa de produzir um lote comercial da Melonrise. Deu muito errado.

Passaram-se 11 longos meses para conseguirmos lançá-la. Aprendemos muito sobre os desafios de se materializar uma ideia. 

Primeiro lote comercial da Melonrise que deu certo.

Acreditávamos que estávamos fazendo algo revolucionário num mercado gigantesco. Não poderia ser tão difícil vender cerveja boa numa cidade como São Paulo. E assim foi por nove meses. Produzíamos pouco, ainda terceirizando nossa produção e vendíamos tudo rapidamente nos melhores bares cervejeiros da cidade. Todo mês lançávamos uma cerveja nova, lotes super frescos que vendíamos em poucas semanas. Juicy IPA começou a virar assunto e sentimos a sede por nossas cervejas. 

Juicy IPA no balcão do EAP.

O próximo passo foi montar nossa fábrica, controlar o processo produtivo e vender direto para o consumidor no bar da fábrica, que chamamos de Taproom. Alugamos um sobrado em Perdizes e encaixamos - sem muita noção do que estávamos fazendo - tudo no imóvel de 100m2. Sobraram 20m2 para os clientes. Naquela época tudo que queríamos era sentir que tínhamos 100% de controle da nossa operação. Queríamos curar certos traumas de quem terceirizava a produção.

Produzir lotes pequenos e atender os clientes de forma direta nos ajudou muito a entender onde estávamos nos metendo. 

Equipamentos chegando na Apinajés.

Olhando agora para trás, chega a ser engraçado ver o quanto acreditávamos que iríamos viver daqueles 20m2 de bar. 

15 minutos antes de inaugurarmos o nosso Taproom.

inauguração do Taproom.

Descobrimos que o buraco é mais embaixo. Começamos a entender como a banda toca e o desafio de estarmos em um mercado dominado por 3 grandes cervejarias. Mudar a realidade do mercado não seria um desafio só nosso. Estávamos imersos numa dinâmica mais complexa, que dependia do consumidor valorizar cada vez mais a categoria e deixar de enxergar cerveja como produto de baixo valor agregado. 

Se tem algo que nos fez continuar na batalha foi perceber sempre algumas confirmações de que estávamos no caminho certo. Mesmos as menores confirmações foram e ainda são muito importantes para nós. 

Uma das primeira delas foi receber logo no nosso segundo lote um pedido do restaurante D.O.M para ter nossas cervejas na carta. Na época, só fazíamos chope. Rapidamente, arrumamos uma solução para entregar latinhas de 350ml que envasamos manualmente a cada 2 semanas e tê-las sempre frescas no restaurante. Era a sacada que precisávamos. Daí começamos a levar nossas cervejas para os restaurantes e comunicar melhor o que estávamos produzindo. Um trabalho de formiguinha que começou lá em 2017 e hoje nos enche de orgulho. 

Melonrise no D.O.M

Nesses sete anos talvez a única certeza que temos é que tudo deu MUITO mais trabalho do que imaginávamos. Na medida em que fomos crescendo e dando passos, foi surgindo uma casca grossa. É estranho, mas começamos a tomar certo gosto pelo desafio, mesmo sabendo que se tivéssemos total clareza do desafio que estávamos nos metendo, talvez não teríamos nos jogado de cabeça. 

É louco ver uma certa beleza na nossa ingenuidade da época. 

Meninos ingênuos na Apinaés.

Depois de dois anos, o sobrado da Apinajés ficou pequeno. Já tínhamos produzido mais de 200 cervejas diferentes. Ser pequeno nos ajudou a testar muito e desenhar melhor os nossos próximos passos. Precisávamos de um imóvel maior e partimos para a Barra Funda.

No meio do caminho tinha uma pandemia. Tinha uma pandemia no meio do caminho. 

Descobrimos muito sobre o que estamos criando na pandemia. Diante de toda a ameaça que estávamos vivendo, vimos as pessoas querendo consumir melhor. As pessoas presas em casa queriam melhores cervejas, melhores queijos, melhores cafés… 

Ver esse movimento foi uma das maiores confirmações que tivemos e nos fez pensar diferente. 

Fechamos o Taproom, partimos para o mundo on-line, colocamos o delivery na rua. Criamos novos clubes de assinaturas. Colocamos no ar uma loja on-line com entrega no Brasil todo. Nossas cervejas nunca tinham chegado tão longe. 

Foram anos intensos e perigosos. Desenvolvemos muito o nosso instinto de sobrevivência. 

No final do ano passado, demos um grande passo para mudar a escala da nossa operação. Implantamos uma fábrica maior e inauguramos a nossa Fermentaria. Tudo junto, ao mesmo tempo. Vivemos dias intensos. A equipe cresceu, a complexidade aumentou. Começamos a ter mais cara de empresa e estabelecer novas rotinas. 

Equipamentos chegando na nova fábrica na Barra Funda.

Primeiro final de semana da Fermentaria.

Uma das coisas mais interessantes que veio com esse crescimento recente, foi uma nova perspectiva de como enxergarmos o que foi construído. Os acertos e erros do passado ficaram mais evidentes. É como se o nosso passado tivesse mudado com essa nova lente. Muitas fichas caíram. 

Hoje, estamos em obra novamente. Em breve, anunciaremos um plano audacioso que estamos louco tirar do papel. 

Essa idéia de setênios parece fazer sentido para nós. Um novo ciclo se aproxima, uma nova fase cheia de desafios. 

Os sete primeiros anos nos ensinaram muito. Ainda cultivamos uma certa ingenuidade que nos faz mergulhar de cabeça em tudo que fazemos.

Gostamos mesmo é da descoberta e do sentimento de realização. 

Que venham os novos ciclos. Feliz setênio!

   

Daniel e Beto

Daniel BekeiermanComentário